quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sobre meritocracia e desigualdade

Sou pela meritocracia, pois se os melhores forem promovidos, todos serão incentivados a melhorar e a sociedade sairá ganhando pois, para cada função, será escolhido o mais apto. Mas reconheço que nunca teremos oportunidades iguais, pois as famílias são diferentes. Nascer numa família na qual as pessoas estudaram, viajaram, falam e lêem diferentes idiomas é muito diferente de nascer numa família na qual os pais têm poucos estudos e pouco tempo para dedicar aos filhos. Claro que a escola pode e deve ser igual para os dois, mas isso não garante a igualdade absoluta de oportunidades. Isto simplesmente não existe, pois o capital cultural é transmitido sobretudo pela família. 
Aliás, boa parte da desigualdade vem da natureza. Por que algumas mulheres são mais bonitas do que outras? Por que alguns são mais altos e mais fortes que os outros? A ideologia da igualdade absoluta é simplesmente a liberação do direito à inveja. Há cada vez mais meninas bonitas sendo agredidas por meninas invejosas. Agressões duras, destinadas a eliminar a beleza e restaurar a "igualdade de oportunidades". Infelizmente, está se banalizando. Os gordos também reclamam que são discriminados e querem mudar ou anular o que consideram ser "o gosto imposto pela sociedade". Como se sexo tivesse mais relação com moda do que com instintos desenvolvidos ao longo de milhões de anos de evolução da espécie. 
Antigamente a religião ajudava a frear esse terrível sentimento que é a inveja e tentava promover a caridade como forma de compensação das desigualdades. Com o descrédito das religiões, a inveja virou virtude cívica e a caridade obrigação do estado. Só que quem ia a uma Santa Casa nos tempos idos era tratado por pessoas que desejavam tratar os outros e acreditavam que isso as aproximava de Deus. Agora são atendidas em hospitais públicos por funcionários públicos que podem estar em greve por aumento de salários. Não sei se a religião deveria ou não voltar, mas a caridade deveria. A condenação da inveja também.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Sakamoto defende a disciplina do mercado livre

Acabo de ler um texto fantástico do Sakamoto. Imperdível. Não é ironia. Sei que ele escreve com o fígado, mas nesse impulso nos apresentou coisas muito interessantes e importantes. Sugiro que leia o Sakamoto e depois volte ao parágrafo seguinte.

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/10/15/sao-paulo-merece-e-precisa-viver-o-horror-da-falta-de-agua/

Três coisas são dignas de atenção no artigo do Sakamoto. Primeiro, ele reconhece o fracasso do estado e da política em organizar nossas vidas. Realmente, acreditar que há políticos cuidando de tudo e que podemos dormir tranquilos é ser um tanto ingênuo. Sei que ele gostaria mesmo é dizer aos paulistas que falhamos em reconhecer os bons. Talvez. Se na eleição passada tivéssemos votado no Mercadante, poderíamos ter água em abundância para nadar de braçada ainda que não chova. Ou teríamos um escândalo na Sabesp. Quem pode saber? O fato é que costuma não dar certo em parte alguma. Se os bons existem, o povo falha em reconhecê-los.

A seguir, ele adiciona a ideia que deixar as coisas correrem o seu fluxo natural (o que um economista liberal chamaria de "deixar o mercado funcionar") é a solução. Não tenho como não concordar. Agindo livremente nos seus negócios privados, as pessoas cometem erros e alguns podem ser bem graves. Mas, como sofrem diretamente as consequências dos erros, podem aprender. O realismo do mercado livre, no qual as pessoas têm até mesmo o poder de desperdiçar recursos preciosos, pode impor situações muito duras. Sempre que consome algo, há uma conta a ser paga, às vezes na forma de escassez. Mas é reconhecendo a realidade, as limitações, a escassez e as consequências dos próprios erros que os homem aprendem e se civilizam. Não resolve nada desejar ser protegido por um estado-babá. Na hora H, ele falha.  Nem que seja porque nós falhamos em eleger os melhores. Há um tipo de pessoa que não quer aprender nada com isso, pois segue o clamor por mais estado, mais intervenção ou a troca dos gestores, embora haja pouco ou nenhuma evidência de que fariam um papel melhor.

Por último, Sakamoto ainda reconhece que o preço é um importante sinal social. Concordo de novo. Há muito se sabe que, quando um bem ou serviço fica mais escasso ou mais desejado pelas outras pessoas, haverá uma alta de preços, salvo se outras condições do mercado mudarem (como uma tecnologia que reduza os custos de produção, por exemplo). As alterações de preços são simples reflexos das mudanças nas condições de produção de um bem, do poder dos produtores sobre o mercado ou do grau de necessidade ou desejo existente pelo bem na sociedade.  Preços são sinais sociais, produzidos por uma interação complexa onde todos nós influímos, embora de forma desigual e, às vezes, profundamente desigual. Se um preço é alto devido ao monopólio o problema não está no sistema de preços, mas no monopólio. Não devo congelar o preço, mas sim promover a concorrência. Preços são sinais sociais que o estado e os políticos deveriam olhar com bastante respeito e prudência. Sempre é bom pensar dez vezes antes de intervir em algo tão complexo e delicado pois o conjunto das consequências nunca pode ser totalmente antecipado. Acontece o mesmo quando interferimos em sistemas naturais. Nem tudo pode ser previsto.

Afinal, qual a diferença entre o que o artigo diz e o que um economista ultra-liberal diria? A que existe entre o fígado e a teorização racional. Racionalmente, é melhor enfrentar uma crise ambiental e virar uma pessoa melhor depois disto do que ser guiado por governos autoritários que alegam saber o que é bom para nós. Melhor cometermos nossos próprio erros. Se cedermos a liberdade ao estado dominador em troca de uma vida mais confortável, vamos perder o conforto e acabar vivendo como escravos.

Não há economistas no mundo capazes de montar um sistema que funcione melhor que o mercado. Toda forma de planejamento centralizado tentada até hoje falhou. No fundo, Sakamoto acredita muito mais do que os economistas no estado dos nossa ciência, o que é natural. Sou profissional de economia há muitos anos. Sei muito bem o que o planejamento não pode entregar. Um dos problemas da democracia é que o leigo em economia, ou seja, a imensa maioria da humanidade, facilmente pode preferir os economistas e os políticos que afirmem ter soluções superiores às que a democracia e o livre mercado podem gerar. Eles garantem que, se tiverem um pouco mais de poder, podem nos entregar uma vida melhor. É só uma ilusão, mas, quando as pessoas pedem o impossível, só os mentirosos podem satisfazê-las.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

NON DUCOR, DUCO !

Só para lembrar:
-Em São Paulo fica o Largo de Pinheiros, local onde os estudantes da USP fizeram a primeira manifestação contra a ditadura da vaga que começou em 1977 e terminaria com a reconstrução da UNE e a queda da ditadura. Em São Paulo, fica a PUC, que foi invadida durante o regime militar.
- Em São Paulo fica São Bernardo, Santo André, São Caetano, onde os metalúrgicos iniciaram greves generalizadas em 1978 que culminariam na reorganização sindical, na construção da CUT e outras centrais sindicais.
- Em São Paulo fica Diadema, onde o PT conquistou sua primeira prefeitura, em 1982.
- Aliás, em São Paulo foi fundado o Partido dos Trabalhadores, no bairro do Higienópolis, na sede do Colégio Sion.
- Em São Paulo o PT obtinha, nos primeiros anos, seus melhores resultados eleitorais. Aqui fizeram carreira política Lula, Genoino e muitos outros imigrantes de todas as partes do país, assim como egressos da clandestinidade como José Dirceu. Aqui, eles encontraram o caminho para suas carreiras políticas de sucesso.
- Em São Paulo fica a maior parte da indústria nacional e, consequentemente, parte significativa da classe operária brasileira.
- Em São Paulo se realizaram os maiores comícios por eleições diretas.
- São Paulo é o berço da parada gay no Brasil e realiza a maior delas todos os anos. É um evento importante do calendário turístico.
Eu poderia multiplicar os exemplos, mas paro por aqui. A pujança de São Paulo sempre esteve a serviço do Brasil, abrindo caminho para fazer aqui as coisas que nem sempre eram possíveis em outros locais, devido ao controle estreito imposto por oligarquias poderosas.
Por isso, se hoje alguns sacripantas disseminam preconceitos contra os paulistas, isso fala mais sobre eles mesmos do que sobre os moradores deste estado. Aqueles que hoje cospem no prato que comeram mostram mais uma vez que merecem o ostracismo no qual estão sendo colocados.
NON DUCOR, DUCO !