Estamos sendo assolados por denúncias bastante fundamentadas de que o PC do B teria montado um “esporteduto” para desviar dinheiro público aos montes através de ONG's que, teoricamente, deveriam estar investindo esses recursos no esporte.
A relação entre comunismo, nacionalismo doentio, esporte, captura do Estado e crime é antiga e já foi bastante relatada. Estou lendo, com certo atraso, um livro muito importante sobre o assunto e que recomendo a todos: McMáfia: o crime sem fronteiras de Misda Glenny (Companhia das Letras, 2008). Vejam o que há na página 46 sobre o período das recentes guerras na ex-Iugoslávia:
“Ainda mais chocante, porém, era o fato de que os mesmos homens que alimentavam a guerra entre seus povos estavam, em particular, colaborando entre si, como bons amigos e parceiros de negócios. Os homens do dinheiro e os gângsters croatas, bósnios, albaneses, macedônios e sérvios eram como unha e carne. Compravam, vendiam e trocavam todo tipo de mercadoria, sabendo que os laços de confiança entre eles eram muito mais fortes do que os vínculos transitórios do nacionalismo histérico. Isso eles fomentavam entre a gente comum, essencialmente para mascarar sua própria venalidade. Como descreveu um analista, as novas repúblicas eram governadas ‘por um cartel que emergiu do Partido Comunista no poder, da polícia, dos militares, da máfia, e que tinha o presidente da República no centro da teia de aranha [...] Para o cartel, o nacionalismo tribal era indispensável como instrumento de pacificação de seus subordinados e para disfarçar a contínua apropriação do aparato estatal”.
O resto do capítulo mostra como a guerra gerava a oportunidade de vender armas, petróleo e outros produtos sob embargo a preços elevadíssimos.
Nós fomos atingidos por uma versão branda desse vírus. Nós não estamos e nem vamos entrar em nenhuma guerra real. Mas usando uma tecnologia que deve ter aprendido com os Partidos Comunistas do Leste Europeu e da Ásia, o nosso PC do B está conduzindo vitoriosamente uma guerra simbólica. Nosso resultado de medalhas no Pan-Americano é impressionante. Motivo de alegria e orgulho para as pessoas que gostam de esportes, especialmente os mais velhos que se lembram de fiascos terríveis em competições anteriores, mesmo Pan-americanos. Mas qual esta sendo, e mais importante, qual ainda será o preço disso tudo (mais a Copa e a Olimpíada) em termos de desvio de dinheiro público e de ocupação não-democrática da máquina do Estado?
Felizes os países onde o nacionalismo já não é bem visto. Na Alemanha, onde a exaltação da pátria foi usada até o limite último pelos nazistas, se um político se apresentar como nacionalista, perderá votos importantes.
Seria também muito bom se os impostos que os brasileiro pagam em proporções escandinavas pudessem realmente ser utilizados para o bem público. Teríamos as mesma medalhas, ou na pior das hipóteses algumas a menos, porém melhores escolas e hospitais. Não sei se os suecos ou dinamarqueses realmente se preocupam com o escasso número de medalhas olímpicas e de títulos internacionais de futebol. Mas sei que
Ceaucesco, Enver Roxha, e Fidel Castro, entre outros, levaram isso muito a sério.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
A crise e os movimentos de massas
O maior dano que a atual crise econômica pode trazer não é econômico em si, mas político. Os movimentos de massas, como aqueles que estão se desenvolvendo, sempre iniciam ciclos de renovação política. Mas, numa grande renovação, está implícito o risco do populismo.
Recomendo vivamente a leitura do artigo abaixo.
http://www.economist.com/node/21533400
Recomendo vivamente a leitura do artigo abaixo.
http://www.economist.com/node/21533400
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Reflexões durante o luto por Steve Jobs
Eu fiquei pessoalmente chateado quando soube da morte de Steve Jobs. Como ele era uma pessoa muito reservada com relação à sua vida familiar, sabemos menos sobre sua personalidade do que, em geral, sabemos sobre outras celebridades. Mas, como aficionado em tecnologia e usuário dos seus produtos acabei desenvolvendo carinho e admiração pela sua figura. Talvez sua doença (a mesma que vitimou meu pai) tenha aumentado meus sentimentos por uma pessoa que, afinal, só conheci pela imprensa. Mas, para além da emoção, não podemos deixar de admirá-lo. Tantos já destacaram seu talento como inventor e como empresário, que quase nada há para acrescentar. Mas, quero fazer três considerações que me parecem pertinentes e sobre as quais ainda não li.
A primeira é que Steve Jobs foi alguém que realmente acreditou no mercado como uma instituição meritória, inclusive no seu sentido moral. Uma vez li numa entrevista sua que as pessoas vêm carros maravilhosos em feiras comerciais, mas estes "carros conceito"nunca estão à venda. Sua obsessão pela qualidade dos produtos teve a força de um compromisso moral. Steve realmente acreditou que oferecer o melhor e respeitar moralmente os consumidores era também a melhor forma de se ganhar dinheiro no longo prazo. Como disse Adam Smith, não devemos a carne à boa vontade do açougueiro, mas do seu desejo de lucro. Assim, muitos açougueiros podem pensar em fazer apenas o mínimo ou só o suficiente, uma vez que a finalidade é só o lucro. Steve Jobs desejava que seus produtos fossem quase uma forma de arte. O padrão de qualidade que a Apple criou é realmente fantástico.
Minha segunda reflexão é sobre os Estados Unidos. Impressiona o quanto este este país foi beneficiado, ao longo da história, por seu liberalismo e afluência econômica. O pai biológico de Steve era um imigrante. Os milhões de refugiados políticos, raciais, religiosos e econômicos que esse país recebeu representaram um acréscimo importantíssimo na capacidade de se fazer ciência e arte. A China poderá rapidamente dominar toda a cena industrial, mas os novos produtos ainda são inventados nos Estados Unidos e por muito tempo o cinema e a música de lá dominarão amplamente seus congêneres chineses. A China terá problemas para produzir inovação e arte, pois é uma ditadura. Sem livre circulação de idéias, há menos incentivos para os inovadores e os artistas.
Minha última reflexão é sobre o alcance da revolução iniciada por Steve Jobs. Claro que não foi só ele, pois milhares de homens contribuíram para a arrancada tecnológica. Mas Steve foi o maior de todos e o símbolo, até agora, desta época. Foi ele quem mais contribuiu para realmente popular o computador, que deixou de ser coisa de nerds e passou a ser indispensável também para músicos, fotógrafos, artistas plásticos, estudantes, qualquer pessoa enfim. O potencial desta revolução ainda é pouco entendido, porque ela está apenas começando. Já mudou a nossa maneira de ir ao banco, de falar com parentes distantes, de comprar e ouvir música, pagar impostos e uma lista infindável da qual não podem ficar de fora as próprias revoluções políticas. Vale lembrar o papel que a internet e os objetos que tornam possível acessá-la cumpriram nas revoluções do mundo árabe.
Após haver melhorado tanto a vida das pessoas, poucos homens poderiam chegar ao fim da sua vida merecedores de tanto crédito. Descanse em paz, Steve Jobs.
A primeira é que Steve Jobs foi alguém que realmente acreditou no mercado como uma instituição meritória, inclusive no seu sentido moral. Uma vez li numa entrevista sua que as pessoas vêm carros maravilhosos em feiras comerciais, mas estes "carros conceito"nunca estão à venda. Sua obsessão pela qualidade dos produtos teve a força de um compromisso moral. Steve realmente acreditou que oferecer o melhor e respeitar moralmente os consumidores era também a melhor forma de se ganhar dinheiro no longo prazo. Como disse Adam Smith, não devemos a carne à boa vontade do açougueiro, mas do seu desejo de lucro. Assim, muitos açougueiros podem pensar em fazer apenas o mínimo ou só o suficiente, uma vez que a finalidade é só o lucro. Steve Jobs desejava que seus produtos fossem quase uma forma de arte. O padrão de qualidade que a Apple criou é realmente fantástico.
Minha segunda reflexão é sobre os Estados Unidos. Impressiona o quanto este este país foi beneficiado, ao longo da história, por seu liberalismo e afluência econômica. O pai biológico de Steve era um imigrante. Os milhões de refugiados políticos, raciais, religiosos e econômicos que esse país recebeu representaram um acréscimo importantíssimo na capacidade de se fazer ciência e arte. A China poderá rapidamente dominar toda a cena industrial, mas os novos produtos ainda são inventados nos Estados Unidos e por muito tempo o cinema e a música de lá dominarão amplamente seus congêneres chineses. A China terá problemas para produzir inovação e arte, pois é uma ditadura. Sem livre circulação de idéias, há menos incentivos para os inovadores e os artistas.
Minha última reflexão é sobre o alcance da revolução iniciada por Steve Jobs. Claro que não foi só ele, pois milhares de homens contribuíram para a arrancada tecnológica. Mas Steve foi o maior de todos e o símbolo, até agora, desta época. Foi ele quem mais contribuiu para realmente popular o computador, que deixou de ser coisa de nerds e passou a ser indispensável também para músicos, fotógrafos, artistas plásticos, estudantes, qualquer pessoa enfim. O potencial desta revolução ainda é pouco entendido, porque ela está apenas começando. Já mudou a nossa maneira de ir ao banco, de falar com parentes distantes, de comprar e ouvir música, pagar impostos e uma lista infindável da qual não podem ficar de fora as próprias revoluções políticas. Vale lembrar o papel que a internet e os objetos que tornam possível acessá-la cumpriram nas revoluções do mundo árabe.
Após haver melhorado tanto a vida das pessoas, poucos homens poderiam chegar ao fim da sua vida merecedores de tanto crédito. Descanse em paz, Steve Jobs.
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