quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A direita e a Universidade brasileira

Toda democracia estável possui pelo menos um partido ou um bloco de partidos de esquerda democrática e outro correspondente de direita democrática. Para essa regra não é possível apontar uma única exceção. Os dois lados possuem seus intelectuais, seus pensadores, seus publicistas, seus artistas, seus líderes doutrinários e políticos. Como há alternância e uma dura competição, os dois lados se refinam. Entre os políticos, por exemplo, os bufões ou grosseirões costumam ser postos de lado, superados por homens e mulheres sérios (embora esta regra tenha algumas exceções).
No Brasil, estamos em falta das duas coisas. A esquerda é populista, autoritária e extraordinariamente corrupta. A direita, por sua vez, nem sabemos direito quem é. Hoje, poucos partidos e parlamentares assumem-se confortavelmente, como direitistas. O PSDB se diz social-democrata e, de fato, o é. No mundo das ideias, então, o descompasso é ainda maior. A direita foi praticamente banida das Universidades, dos meios intelectuais, artísticos e jornalísticos. Até nos meios jurídicos, ela está em retirada, se tivermos como perspectivas as últimas décadas. 
Como qualquer professor ou artista sabe, nesses meios, quem se assume como de "direita" cria dificuldades para si na vida. Intelectuais e artistas "de esquerda" dominam os centros de financiamento e legitimação e orientam, por mecanismos sutis, o discurso que deverá ser repercutido. Quem não se adequa, estará prejudicado na competição pela carreira. Assim, ser "de direita" é como estar disputando uma corrida na qual os outros correm livres, mas você está carregando um haltere de dez quilos em cada mão.
Banida das Universidades e das artes e enfraquecida no meio jurídico, a imagem pública que temos da direita no Brasil de hoje é, infelizmente, a do insulto e da grosseria. É terrível ser conservador e ter que passar certos constrangimentos como um deputado se portando de forma, digamos, pouco polida....Tudo o que a esquerda, agora pega com a boca na botija, precisa desesperadamente é que a direita pareça machista, intolerante e violenta. E ela consegue exatamente o que precisava!
Aqueles que, como eu, gostam de se dizer "de direita", precisamos reconhecer o problema. Nossa direita ainda é muito tosca. Ficou restrita aos meios militares e de segurança, onde os homens tem que ser disciplinados, com espírito de equipe, determinados e destemidos, mas não necessariamente refinados ou sutis. Como professor não me sinto nem um pouco melhor do que militares ou policiais. Eu não arrisco minha vida quando estou trabalhando. Até por isso, posso me refinar. 
A direita precisa, urgentemente, para deixar de ser primária, retomar o seu espaço nas Universidades nas artes e nos meios intelectuais. O grande filósofo estóico Plutarco dizia que um dos proveitos que podemos tirar dos inimigos é que eles são absolutamente sinceros com relação aos nossos defeitos. Quem aspirar elevar-se, deve ouvir atentamente a crítica do inimigo. O inimigo diz que somos toscos. Somos mesmo. Intelectuais e artistas "de direita", mãos à obra. Há um mundo a conquistar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O papel das redes sociais ou por que a ficha está demorando para cair?

Você conhece quantos eleitores do Collor? Imagino que bem poucos. Quase todas as pessoas com mais de 45 anos completos hoje estavam aptas a votar no pleito de 1989. Pergunte aos maiores de 45 anos em quem eles votaram: Lula ou Collor. Eu garanto que até bem pouco tempo atrás, você não encontraria quase nenhum eleitor do Collor (hoje tenho dúvidas, pois há até quem defenda intervenção militar... ). Mas, se ninguém votou nele, como ele pode ganhar? 
Pois é, não havia facebook. Ficou fácil voltar atrás, esquecer ou mesmo esconder o passado. Como ninguém havia postado banner do Collor; seu rosto emoldurado de Collor; o hino do Collor; as promessas de campanha e, fundamental, a acusação de que Lula sequestraria os recursos das Cadernetas de Poupança, era só tocar a vida e contar uma mentira inofensiva: na verdade, votei no Lula.
Agora é diferente. O sujeito vai ao facebook e, na sua ignorância, paramenta-se do erro político da vez. O problema que isso cria para o destino das sociedades é que fica difícil voltar atrás. Afinal, como diz o ditado popular: é muito mais fácil enganar alguém do que convencer alguém de que foi enganado. O problema básico é de auto-estima: quem engana quase sempre massageia o ego do enganado. Mas quem tenta demostrar a alguém que ele foi enganado, destrói sua auto-imagem e revela sua ignorância. 
Então a luta será rua por rua, casa por casa. Uma batalha de Stalingrado virtual. As pessoas não vão se render tão facilmente. Elas vestiram a mentira, então não dispõem de meios fáceis para se livrar dela. Essas pessoas não terão a opção que alemães tiveram, ao poder queimar todas as fotos e relíquias do tempo nazista, na medida que os russos se aproximavam. Naqueles tempos, alguns, melhor posicionados, até conseguiram providenciar uma filiação de última hora ao partido comunista. Não vai ser assim. Esse povo todo que dilmou e compartilhou isso com o mundo, deixou inscrito na história do Brasil, para consulta dos futuros historiadores e biógrafos, de que lado esteve na disputa de 2014.
Nós não sabemos quem elegeu Collor, pois seus eleitores se dispersaram. Mas, graças ao facebook, saberemos exatamente os que elegeram Dilma. Então, meus caros, eles não vão entregar os pontos facilmente. Estejamos, pois, preparados para uma longa luta democrática, de convencimento, meios e manifestações pacíficas. Mas contínuas e insistentes, para não deixar dormir os que estão com dor de cabeça. Pois importante não é só erradicar o erro político da vez, mas nos educarmos sobre suas causas e consequências. Só assim, podemos dificultar a repetição das falhas e construir uma democracia.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Em defesa da legitimidade da esquerda política e contra a autocracia petista

Eu não sou mais de esquerda, basicamente porque considero que as políticas de combate à pobreza aumentam o número de pobres. Em geral, as medidas que supostamente combateriam a desigualdade acabam reduzindo o crescimento econômico e, portanto, aumentando a pobreza. O que se passa na Venezuela, na Argentina, em Cuba ou na Coréia do Norte é um evidência disto.
Entretanto, temos que reconhecer que a esquerda democrática é uma posição política legítima. Equivocada, segundo nosso ponto de vista, mas legítima. Em todas as democracias do mundo, absolutamente todas, há sempre um partido ou um bloco de esquerda. Se queremos construir uma democracia no Brasil, temos que aceitar a ideia de que um partido de esquerda democrática fará parte da paisagem. Eu serei adversário (veja bem, adversário, não inimigo) dessa corrente.
Um coisa importante, porém, é perceber que o PT vem se desqualificando para ocupar esse lugar. Em primeiro lugar, está ficando claro que o PT não tem qualquer compromisso com a democracia. Se, para se manter eternamente no poder, o partido tiver que atacar a democracia e até mesmo implantar a sua ditadura, está claro que ele não hesitará. Vai sempre recorrer ao discurso de ódio, do "nós contra eles", destinado a dividir a sociedade, à pressão sobre os meios de comunicação, à corrupção do Congresso e do Judiciário. tudo isso vem fazendo parte do cardápio bolivariano que o PT está cozinhando. 
Outro ponto é a corrupção. Não vou me estender sobre isto, pois as notícias estão ai, se sucedendo em velocidade alucinante. A corrupção petista não é igual a que existe no País desde sempre. É pior, pois visa mais do que o enriquecimento de uma elite parasitária. Visa a perpetuação dessa elite no poder como autocracia. Visa, portanto, destruir lentamente a democracia.
Marina e a Rede, o PSB, o PPS, o Eduardo Jorge, o PV e o PSDB são diferentes. São forças democráticas. Portanto, são adversários legítimos. Tem que haver um lugar para eles na democracia e também para novos grupos e partidos de esquerda democrática que venham a surgir. 
A direita antiquada e anti-comunista faria um bem a si própria se concentrasse os ataque na organização criminosa que capturou e desvirtuou o PT e parasse com esse discurso que equipara todo mundo, no diapasão do "é tudo Foro de São Paulo". Falam, no melhor estilo das teorias conspirativas, como se houvesse uma articulação centralizada, comandada a partir de Cuba, que une desde o PSDB até o MST! Esse discurso basicamente nos prejudica, pois levanta temores na esquerda democrática. Será muito mais difícil derrotar o PT sem a ajuda dessa esquerda democrática.
Por outro lado, a esquerda democrática faz um bem a si própria quando descola do PT e assume um caminho próprio. Marina, Eduardo Jorge, o PSB, PPS e o PV tiveram a coragem de apoiar Aécio no segundo turno e romper com o bloco petista. E foi isso que fez a candidatura do Aécio mudar de patamar.
Mas parece que uma parte da direita ainda não percebeu isso, ou não quer perceber. Afinal, o que essa parte da direita política quer no curtíssimo prazo: banir a força anti-democrática que o PT representa ou afirmar-se a si mesmos como "salvadores da Pátria"? Se o objetivo é tirar o PT do poder, a mais ampla frente deve ser construída e nela devemos incluir Marina, Eduardo Jorge, Roberto Freire etc. Agora, se o objetivo é só se credenciar como força emergente, enquanto o PT governa e se consolida, então vale ficar fazendo marketing de nicho e sair criticando tudo e todos. 
Essa é uma importante questão de escolha. Sair atirando contra todo mundo faz você ficar parecendo bem radical, bem "coerente", mas o PT colhe os maiores benefícios disso, pois esse radicalismo afasta os centristas e a esquerda moderada da luta contra o governo. Enfrentar o PT não é para amadores.