segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A nova "guerra nacional popular" de Maduro

Não vou entrar no mérito pois não tenho vocação para investigações policiais. Mas, do ponto de vista da política internacional, este é um velho e surrado golpe de todos os governos que se sentem ameaçados: criar um conflito externo para mobilizar o patriotismo e, nesse caso específico, também o bolivarianismo e o esquerdismo radical.

Pode dar errado. Em 1982, os militares argentinos jogaram essa carta e terminaram numa guerra com o Reino Unido. Acabou, é claro, numa derrota militar e numa queda desordenada da ditadura.

Maduro parece bem mais esperto. Sua guerra com os Estados Unidos será apenas retórica. A Venezuela continuará vendendo petróleo aos americanos, que seguirão comprando. Os Estados Unidos estão muito mais relutantes em envolver-se em guerra por energia, já estão retirando-se de outros atoleiros.

O grande problema de se "jogar para a torcida" com a política externa, é que, se alguma coisa sair do planejado, nosso aprendiz de feiticeiro deixa de ser condutor e torna-se passageiro de um carro desgovernado. Como já se disse, a vida é aleatória.

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,maduro-diz-que-vai-expulsar-tres-funcionarios-consulares-dos-eua,1131296,0.htm

O "analista" Caetano Veloso

Caetano Veloso escreveu um artigo no Globo no qual menciona dois grandes colegas economistas: Eduardo Gianetti e André Lara Rezende. Proponho uma experiência mental: imagine que o Gianetti e o Lara Resende também sejam cantores e compositores, nas horas vagas, e que a dupla vai se apresentar num teatro ao lado do qual o Caetano faz o seu show. Se o preço do ingresso fosse o mesmo, digamos R$ 200,00, qual dos shows você assistiria? Eu iria ao do Caetano, é óbvio. E você?

Agora, se você está buscando ouvir opiniões sobre política ou economia, eu sugiro que procure um especialista. O Caetano, vestiu-se de black bloc. Só isso dá uma amostra clara da sua desinformação e ingenuidade. Sobre economia, nunca vi ele falar nada coerente. Deixo claro que não cobro isso dele, como não cobro do Gianetti que cante afinado. Apresento, abaixo, o link do artigo, para que todos possam conferir a total ausência de ideias e a mais absoluta fulanização do debate.

Um belo exemplo do que Mario Vargas Llosa nos mostrou em "A civilização do espetáculo", cuja leitura recomendo vivamente.

http://oglobo.globo.com/cultura/freixo-outra-vez-11616610

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sobre a "filosofia" black bloc pela qual ataque às coisas não constitui violência

O estranho conceito dos black blocs sobre a violência nos permite discutir um princípio importante: o ataque aos bens de uma pessoa é um ataque à própria pessoa. Tanto um grande banco quanto um trabalhador com seu fusquinha têm o mesmo direito à propriedade. A diferença é o como lidam. Tento me colocar no lugar. Se eu fosse dono de um grande banco, teria também uma seguradora. Eu simplesmente pediria aos meus funcionários técnicos uma reavaliação do risco de sinistro das agências e sugestões sobre como lidar com ele. Ficaria chateado, claro, talvez tivesse que economizar em algum dos requintes da vida, mas seguiria em frente. Porém, se eu fosse o dono de um fusquinha queimado, pelo qual tivesse feito um grande sacrifício, eu provavelmente me sentiria magoado, revoltado, indignado e injustiçado. Esses são sentimentos humanos. Para um black bloc, a questão importante é que o fusquinha realmente não sente nada!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sobre black blocs, justiceiros e a República de Weimar

Eu tenho alunos black blocs. Eles poderiam ser meus filhos. Eu sou pai, gosto de dar aulas, aprecio a juventude e faço amizades com meus alunos. O que eu venho dizendo aos meus alunos black blocs? Em primeiro lugar, que parem com isso. Constitui uma estupidez construir uma milícia de esquerda sem, em algum momento, abrir o caminho para o surgimento de uma milícia fascista. Eu gostaria de poder interromper livremente os assuntos do programa escolar para lhes prevenir o quão terríveis são as milícias de direita e as desgraças que elas já causaram. Eu apelaria para que não despertassem monstros adormecidos. Tenho sugerido que utilizem os métodos democráticos, que escrevam textos, façam reuniões, comícios e passeatas. Que fundem partidos políticos como a minha geração fez. Tenho contado a eles a experiência da guerrilha urbana e mostrado quanto sacrifício foi feito para marcar um gol contra. Insisto não se devem esquecer dos livros, pois todo idealismo é passível de degenerar em barbárie quando não é esclarecido.

Eu não tenho amigos justiceiros. Acho que não tenho, pois é óbvio que um justiceiro nunca se apresentaria como tal. Será que eu poderia ter amigos justiceiros? Talvez, afinal eu tenho amigos liberais, conservadores, trotskistas, socialdemocratas, libertários, católicos ultramontanos e progressistas, judeus liberais e religiosos, evangélicos, gays, maconheiros etc. Talvez, me esforçando um pouco, eu conseguisse compreender a mentalidade de um policial honesto, vendo-se cercado por todos os lados e ainda combatido duramente por parte da sociedade pela qual arrisca a sua vida. Talvez assistisse Tropa de Elite para tentar entende-lo.

Se eu tivesse esse amigo justiceiro eu lhe diria o que foi o nazismo e o fascismo e os horrores que geraram. Eu tentaria lhe mostrar no que deram todas as tentativas de impor a ordem social por meios autoritários. Eu lhe diria para confiar apenas na democracia. Que não dispomos de nada melhor para manter a ordem social com o mínimo de custo em termos de vidas e de liberdades individuais. Diria que o crime pode e deve ser combatido com sucesso por uma polícia profissional.

Tanto para o meu aluno black bloc quanto para o meu amigo imaginário justiceiro eu gostaria de contar a história da República de Weimar. Explicaria que na Alemanha, depois da derrota na primeira guerra, a monarquia acabou e nasceu a tal República de Weimar. Ela despertou grandes esperanças, mas foi logo sacudida pela crise econômica e pela hiperinflação. Terminou sendo a República que ninguém defendeu e deu lugar ao mais criminoso regime político que já existiu: o nazismo.

Duas forças foram as responsáveis diretas pela desestabilização política do país: os comunistas e os nazistas. Os comunistas partiram para uma luta direta pela revolução, recusaram-se a colaborar com os socialdemocratas, com os quais poderiam ter formado um governo conjunto! Eles preferiram fazer uma intensa campanha classificando os socialdemocratas como “socialfascistas” e realizaram ações para desestabilizar o seu governo. Qualquer semelhança com PSOL, PSTU, PCO e black blocs é mero atraso histórico.  Do outro lado, os nazistas foram ganhando apoio, entre outras coisas, porque eram os únicos que conseguiam enfrentar os comunistas na luta de rua. Os argumentos, os livros, os debates, os comícios passaram a valer cada vez menos. Importantes eram os jovens fortes, cheios de músculos e testosterona, dispostos a dar a vida por uma utopia social, que, invariavelmente, terminou nas imensas catástrofes humanitárias do fascismo e do comunismo.

Aqui temos alguns complicadores com relação a Weimar. O governo socialdemocrata não é lá muito anjinho. Parte dele quer controlar a imprensa, parte quer revanche contra os militares, parte quer atacar o direito de propriedade e há uma tendência generalizada a quebrar e ignorar regras para uma competição eleitoral justa. Para complicar, há uma tolerância infinita à corrupção e um profundo ressentimento social quanto a isso. Não bastasse, podemos ter pela frente uma crise econômica.


A violência política não se generalizou no Brasil. Ainda. Vamos todos recuar um passo. Todos temos tempo para recuar. Não há outra atitude humana a tomar. Justiceiros agem fora da legalidade. Podemos compreender, mas não muda o fato de que é um crime com punições duras  já previstas na lei. As penas existem para ser aplicadas. Mas a mesma mão dura que cair sobre os justiceiros deve cair sobre os black blocs. Eles que recuem a tempo, que saiam de costas fingindo que estão entrando, repensem, mudem seus métodos e reapareçam sem máscaras e com textos, panfletos, jornais, discursos e convocando suas reuniões. A polícia deve agir com transparência e absoluto respeito à lei e normas profissionais democráticas. Se Weimar cair, seja maldito todo aquele que não a defendeu.