terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Apple tem um modelo de negócios errado no Brasil

A Apple é uma das empresas mais bem sucedidas do mundo. O sucesso é merecido, pois os produtos são inovadores e de alta qualidade. Mas ninguém é perfeito ou está imune a bugs. Apple e Google são hoje os dois principais competidores pelo novos mercados da internet. Os modelos de negócio são totalmente distintos. A Apple aposta em um modelo fechado. Desde sempre ela ofereceu os seus computadores com hardware e software integrados, feitos pelo mesmo fabricante e comercializados conjuntamente. Esta integração permitiu avanços importantes de qualidade. Ao lado, a Google aposta num modelo aberto, que permite gerar produtos com custo menor.

Com o desenvolvimento da computação em nuvem e dos novos gadgets, o modelo fechado da Apple tornou-se ainda mais abrangente. Usando iPods, iPads e iPhones, o consumidor Apple teria tudo integrado usando a nuvem da empresa, o iCloud, e os softwares a ela acoplados como o iMail, o iCalendar, o Iphoto etc. Finalmente, com a existência das lojas iTunes, iBooks e App Store, passava-se a comprar não só hardware e software mas também o próprio conteúdo da Apple, na forma de música, livros eletrônicos etc. É uma integração total de toda a cadeia produtiva, sob o controle da Apple.

Já a Google seguiu um modelo menos integrado. A companhia se concentrou em produzir os softwares deixando para outros a produção de hardware e não controlando de forma monopolista a venda de conteúdos.

Supostamente o modelo Apple poderia gerar qualidade superior, mas há um bug na aplicação do modelo fechado da Apple no Brasil e eu, particularmente, fui uma vítima dele. Como usuário de computadores Apple e apreciador da sua superior qualidade, eu resolvi comprar um iPhone e me tornar um consumidor do mundo fechado da Apple. Não tenho problemas em pagar um pouco mais caro se tiver qualidade de produtos e serviços em troca. Nunca achei mesmo que deveria ter as coisas de graça.

Mas a minha aventura no mundo Apple começou a desmoronar quando precisei de assistência técnica para o iPhone dentro da garantia do produto. Entrei com contato com a Apple que sempre havia me atendido muito bem com relação a todo e qualquer problema. Mas, desta vez, fui informado que a empresa não dá nenhum tipo de suporte ao iPhone no Brasil. Eu deveria procurar a operadora, no caso a TIM, que responderia pela garantia do aparelho.

Não quero contar todas as minhas desventuras aqui, pois seria tedioso. Basta dizer que primeiro fui encaminhado a uma empresa de quinta categoria, que não era autorizada Apple e que demorou três semanas para dizer que não havia problema alguma com o aparelho e devolvê-lo com o visor riscado. Conformei-me. Mas, meses depois, ao saber que a TIM havia cancelado o seu contrato com essa empresa de fundo de quintal e passado a contar com a assistência da Itautec, voltei a entrar em contato com a TIM sobre o meu iPhone com mau funcionamento. Fui orientado a comparecer a uma loja para abrir um pedido de assistência. Disseram-me que a Itautec entraria em contato comigo para dizer como eu deveria proceder. Aguardo há dez dias por uma simples instrução sobre para onde eu devo encaminhar o telefone. Depois serão mais não sei quantos dias para avaliação e assim vai...

Não é possível mais viver sem o celular e os e-mails ao seu dispor. Que fazer? Comprar outro iPhone enquanto espero por uma possível assistência técnica? Mas isso não seria premiar a incompetência? Não seria premiar o desrespeito aos direitos do consumidor? E se eu desse o extremo azar de comprar outro aparelho com problemas? Decidi comprar um celular Android muito mais barato para ir quebrando o galho. Mas, com isso deixei de usar o iCloud e os programas Apple. E também deixei de comprar conteúdo da Apple.

Creio que a Apple deve escolher o que quer fazer no mercado brasileiro. Se quer nos propor o modelo fechado está abrigada a cuidar de toda a cadeia produtiva, inclusive zelar pela qualidade da assistência técnica dos iPhones. Pois, no mundo das nuvens, um produto não se consome isoladamente. Só vou comprar revistas na loja da Apple se puder usar o iPhone e só vou poder fazê-lo se o meu aparelho for consertado ou trocado.

A Apple gosta de sinalizar que seu modelo fechado é quase um compromisso moral com o consumidor. Em várias entrevistas, vimos frases como: "controlamos o conteúdo para que o seu filho não assista pornografia, para que você fique protegido dos virus e do crime informatizado" ou "integramos hardware e software para proporcionar uma melhor experiência". Ok, eu não sou daqueles que fica reclamando de monopólio, mas, se a Apple têm realmente esse compromisso moral, não pode deixar falando sozinho um  usuário com iPhone imprestável e sem uso em plena garantia.

Se o modelo "integrado" permite que, no Brasil, a Apple tire o corpo nessa hora e "terceiriza"o problema, então seria melhor ficar com o modelo Google. Como apreciador dos produtos Apple, eu torço para que ela mude a sua política com relação ao suporte aos iPhones no Brasil. Até lá, conclui que os consumidores fazem melhor optando por produtos Android.

Quanto ao meu problema particular, vou responsabilizar a Apple e não a TIM ou a Itautec. Eu não sei que contratos a Apple tem com a TIM e esta com a Itautec e, pensando bem, isso não é da minha conta. Comprei o iPhone por se tratar de um produto Apple. Fiz apenas duas perguntas ao comprá-lo na loja da TIM: (1) O aparelho é desbloqueado? (2) Vai me obrigar a alguma fidelidade? Só adquiri ao saber que era desbloqueado e sem fidelidade. Na minha cabeça eu estava casando com a Apple e não com a TIM. Ao entrar no site da Apple Brasil somos conclamados a comprar iPhone. Muito bem, se a Apple do Brasil anuncia o produto em nosso mercado, deve responder por ele. Mas ainda vou perguntar para a minha advogada como ela vê esta questão.