sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O que penso da greve na PUC-SP

Alguns alunos, colegas e amigos têm me perguntado sobre o movimento grevista na PUC-SP. Com vista a atender esse pedido, escrevo as considerações abaixo, que sintetizam a minha opinião.

1. Sou um defensor do direito à propriedade como um direito justo e importante para promover o bem-estar social, a democracia política e o direito à livre organização, inclusive à livre organização religiosa. Isto foi particularmente importante durante a ditadura militar, período no qual a propriedade privada da PUC pela Igreja permitiu que ela fosse um centro de resistência ao regime autoritário e local de abrigo a professores e intelectuais perseguidos.

2. Entendo que a PUC, ainda que num sentido amplo seja um patrimônio da humanidade e pertença a todos, no sentido estrito do exercício do direito à propriedade pertence à Fundação São Paulo e à Igreja Católica, quer apreciemos este fato ou não. 

3. O Estatuto em vigor prevê que o Arcebispo de São Paulo deve escolher o Reitor a partir de uma lista tríplice de candidatos elaborada pela comunidade. Entendo que o espírito do mecanismo da lista tríplice é filtrar os candidatos que são muito indesejáveis para a comunidade ou pouco aceitos na comunidade, preservando a escolha final pelo representante da Igreja. 

4. No período eleitoral, todos os três candidatos foram considerados legítimos. Ninguém pareceu vetar ninguém e a campanha foi limpa e até bastante cortês. Portanto, quando D. Odilo escolheu a Prof, Anna Cintra, o fez dentro da regra estatutária. Concluindo, trata-se de uma escolha perfeitamente legítima.

5. Legitima não quer dizer necessariamente a mais adequada. Pode-se criticar ou elogiar a escolha feita, pois isso faz parte da liberdade de opinião e expressão. Mas não acho correto pretender impor uma decisão ao Cardeal sob pretextos tais como o de que é a comunidade quem deve escolher (o que, tomado absolutamente, viola o direito à propriedade); que a tradição assim o manda (argumento conservador, meio esquisito até quando apresentado por "revolucionários" ou "progressistas") ou ainda que isso é a materialização de relações democráticas na Universidade (assunto que considero bastante discutível). 

6. Sendo assim, meu posicionamento pessoal é contrário ao movimento grevista. 

7. Embora eu discorde deste movimento, procurarei sempre respeitar opiniões e sentimentos dos que dele participam, já que não possuo monopólio da verdade e nunca posso saber exatamente quando estou certo ou errado. Mas, espero que tudo caminhe para um entendimento e uma solução satisfatória no mais breve prazo possível, poupando a Universidade de muitos e difíceis problemas.