quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A direita e a Universidade brasileira

Toda democracia estável possui pelo menos um partido ou um bloco de partidos de esquerda democrática e outro correspondente de direita democrática. Para essa regra não é possível apontar uma única exceção. Os dois lados possuem seus intelectuais, seus pensadores, seus publicistas, seus artistas, seus líderes doutrinários e políticos. Como há alternância e uma dura competição, os dois lados se refinam. Entre os políticos, por exemplo, os bufões ou grosseirões costumam ser postos de lado, superados por homens e mulheres sérios (embora esta regra tenha algumas exceções).
No Brasil, estamos em falta das duas coisas. A esquerda é populista, autoritária e extraordinariamente corrupta. A direita, por sua vez, nem sabemos direito quem é. Hoje, poucos partidos e parlamentares assumem-se confortavelmente, como direitistas. O PSDB se diz social-democrata e, de fato, o é. No mundo das ideias, então, o descompasso é ainda maior. A direita foi praticamente banida das Universidades, dos meios intelectuais, artísticos e jornalísticos. Até nos meios jurídicos, ela está em retirada, se tivermos como perspectivas as últimas décadas. 
Como qualquer professor ou artista sabe, nesses meios, quem se assume como de "direita" cria dificuldades para si na vida. Intelectuais e artistas "de esquerda" dominam os centros de financiamento e legitimação e orientam, por mecanismos sutis, o discurso que deverá ser repercutido. Quem não se adequa, estará prejudicado na competição pela carreira. Assim, ser "de direita" é como estar disputando uma corrida na qual os outros correm livres, mas você está carregando um haltere de dez quilos em cada mão.
Banida das Universidades e das artes e enfraquecida no meio jurídico, a imagem pública que temos da direita no Brasil de hoje é, infelizmente, a do insulto e da grosseria. É terrível ser conservador e ter que passar certos constrangimentos como um deputado se portando de forma, digamos, pouco polida....Tudo o que a esquerda, agora pega com a boca na botija, precisa desesperadamente é que a direita pareça machista, intolerante e violenta. E ela consegue exatamente o que precisava!
Aqueles que, como eu, gostam de se dizer "de direita", precisamos reconhecer o problema. Nossa direita ainda é muito tosca. Ficou restrita aos meios militares e de segurança, onde os homens tem que ser disciplinados, com espírito de equipe, determinados e destemidos, mas não necessariamente refinados ou sutis. Como professor não me sinto nem um pouco melhor do que militares ou policiais. Eu não arrisco minha vida quando estou trabalhando. Até por isso, posso me refinar. 
A direita precisa, urgentemente, para deixar de ser primária, retomar o seu espaço nas Universidades nas artes e nos meios intelectuais. O grande filósofo estóico Plutarco dizia que um dos proveitos que podemos tirar dos inimigos é que eles são absolutamente sinceros com relação aos nossos defeitos. Quem aspirar elevar-se, deve ouvir atentamente a crítica do inimigo. O inimigo diz que somos toscos. Somos mesmo. Intelectuais e artistas "de direita", mãos à obra. Há um mundo a conquistar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O papel das redes sociais ou por que a ficha está demorando para cair?

Você conhece quantos eleitores do Collor? Imagino que bem poucos. Quase todas as pessoas com mais de 45 anos completos hoje estavam aptas a votar no pleito de 1989. Pergunte aos maiores de 45 anos em quem eles votaram: Lula ou Collor. Eu garanto que até bem pouco tempo atrás, você não encontraria quase nenhum eleitor do Collor (hoje tenho dúvidas, pois há até quem defenda intervenção militar... ). Mas, se ninguém votou nele, como ele pode ganhar? 
Pois é, não havia facebook. Ficou fácil voltar atrás, esquecer ou mesmo esconder o passado. Como ninguém havia postado banner do Collor; seu rosto emoldurado de Collor; o hino do Collor; as promessas de campanha e, fundamental, a acusação de que Lula sequestraria os recursos das Cadernetas de Poupança, era só tocar a vida e contar uma mentira inofensiva: na verdade, votei no Lula.
Agora é diferente. O sujeito vai ao facebook e, na sua ignorância, paramenta-se do erro político da vez. O problema que isso cria para o destino das sociedades é que fica difícil voltar atrás. Afinal, como diz o ditado popular: é muito mais fácil enganar alguém do que convencer alguém de que foi enganado. O problema básico é de auto-estima: quem engana quase sempre massageia o ego do enganado. Mas quem tenta demostrar a alguém que ele foi enganado, destrói sua auto-imagem e revela sua ignorância. 
Então a luta será rua por rua, casa por casa. Uma batalha de Stalingrado virtual. As pessoas não vão se render tão facilmente. Elas vestiram a mentira, então não dispõem de meios fáceis para se livrar dela. Essas pessoas não terão a opção que alemães tiveram, ao poder queimar todas as fotos e relíquias do tempo nazista, na medida que os russos se aproximavam. Naqueles tempos, alguns, melhor posicionados, até conseguiram providenciar uma filiação de última hora ao partido comunista. Não vai ser assim. Esse povo todo que dilmou e compartilhou isso com o mundo, deixou inscrito na história do Brasil, para consulta dos futuros historiadores e biógrafos, de que lado esteve na disputa de 2014.
Nós não sabemos quem elegeu Collor, pois seus eleitores se dispersaram. Mas, graças ao facebook, saberemos exatamente os que elegeram Dilma. Então, meus caros, eles não vão entregar os pontos facilmente. Estejamos, pois, preparados para uma longa luta democrática, de convencimento, meios e manifestações pacíficas. Mas contínuas e insistentes, para não deixar dormir os que estão com dor de cabeça. Pois importante não é só erradicar o erro político da vez, mas nos educarmos sobre suas causas e consequências. Só assim, podemos dificultar a repetição das falhas e construir uma democracia.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Em defesa da legitimidade da esquerda política e contra a autocracia petista

Eu não sou mais de esquerda, basicamente porque considero que as políticas de combate à pobreza aumentam o número de pobres. Em geral, as medidas que supostamente combateriam a desigualdade acabam reduzindo o crescimento econômico e, portanto, aumentando a pobreza. O que se passa na Venezuela, na Argentina, em Cuba ou na Coréia do Norte é um evidência disto.
Entretanto, temos que reconhecer que a esquerda democrática é uma posição política legítima. Equivocada, segundo nosso ponto de vista, mas legítima. Em todas as democracias do mundo, absolutamente todas, há sempre um partido ou um bloco de esquerda. Se queremos construir uma democracia no Brasil, temos que aceitar a ideia de que um partido de esquerda democrática fará parte da paisagem. Eu serei adversário (veja bem, adversário, não inimigo) dessa corrente.
Um coisa importante, porém, é perceber que o PT vem se desqualificando para ocupar esse lugar. Em primeiro lugar, está ficando claro que o PT não tem qualquer compromisso com a democracia. Se, para se manter eternamente no poder, o partido tiver que atacar a democracia e até mesmo implantar a sua ditadura, está claro que ele não hesitará. Vai sempre recorrer ao discurso de ódio, do "nós contra eles", destinado a dividir a sociedade, à pressão sobre os meios de comunicação, à corrupção do Congresso e do Judiciário. tudo isso vem fazendo parte do cardápio bolivariano que o PT está cozinhando. 
Outro ponto é a corrupção. Não vou me estender sobre isto, pois as notícias estão ai, se sucedendo em velocidade alucinante. A corrupção petista não é igual a que existe no País desde sempre. É pior, pois visa mais do que o enriquecimento de uma elite parasitária. Visa a perpetuação dessa elite no poder como autocracia. Visa, portanto, destruir lentamente a democracia.
Marina e a Rede, o PSB, o PPS, o Eduardo Jorge, o PV e o PSDB são diferentes. São forças democráticas. Portanto, são adversários legítimos. Tem que haver um lugar para eles na democracia e também para novos grupos e partidos de esquerda democrática que venham a surgir. 
A direita antiquada e anti-comunista faria um bem a si própria se concentrasse os ataque na organização criminosa que capturou e desvirtuou o PT e parasse com esse discurso que equipara todo mundo, no diapasão do "é tudo Foro de São Paulo". Falam, no melhor estilo das teorias conspirativas, como se houvesse uma articulação centralizada, comandada a partir de Cuba, que une desde o PSDB até o MST! Esse discurso basicamente nos prejudica, pois levanta temores na esquerda democrática. Será muito mais difícil derrotar o PT sem a ajuda dessa esquerda democrática.
Por outro lado, a esquerda democrática faz um bem a si própria quando descola do PT e assume um caminho próprio. Marina, Eduardo Jorge, o PSB, PPS e o PV tiveram a coragem de apoiar Aécio no segundo turno e romper com o bloco petista. E foi isso que fez a candidatura do Aécio mudar de patamar.
Mas parece que uma parte da direita ainda não percebeu isso, ou não quer perceber. Afinal, o que essa parte da direita política quer no curtíssimo prazo: banir a força anti-democrática que o PT representa ou afirmar-se a si mesmos como "salvadores da Pátria"? Se o objetivo é tirar o PT do poder, a mais ampla frente deve ser construída e nela devemos incluir Marina, Eduardo Jorge, Roberto Freire etc. Agora, se o objetivo é só se credenciar como força emergente, enquanto o PT governa e se consolida, então vale ficar fazendo marketing de nicho e sair criticando tudo e todos. 
Essa é uma importante questão de escolha. Sair atirando contra todo mundo faz você ficar parecendo bem radical, bem "coerente", mas o PT colhe os maiores benefícios disso, pois esse radicalismo afasta os centristas e a esquerda moderada da luta contra o governo. Enfrentar o PT não é para amadores.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O PT e o ciclo político

Você petista que está indignado com as nomeações de Joaquim Levy e Katia Abreu merece a minha simpatia, pois você está sendo vítima de um estelionato. Venderam-lhe gato por lebre.

O que precisa ser entendido é que o PT não é mais um partido de esquerda ou de direita. É apenas uma espécie de PTB getulista. Um PMDB dos sindicatos e movimentos. Em resumo, um partido fisiológico, integrado também por quadrilhas de corruptos, mas que manipula com maestria certos símbolos caros à sua base social e a toda uma geração.

Uma certa direita primitiva ajuda a dar credibilidade ao PT "ideológico". Falam em reconstrução da URSS, em Pátria Grande Socialista e coisas do gênero. Há toda uma teoria conspirativa em torno do Foro de São Paulo, que não passa de uma imensa bobagem.

Não quero dizer que o PT não seja perigoso ou autoritário. Ele é. Mas não possui mais projeto político, só projeto de poder. Querem ficar lá para sempre, se locupletando, seja como for e governando com e para as grandes empresas, desde que as propinas sejam pagas.

Que novidade há em partidos se articulando numa organização internacional? Todos fazem isso (os de direita também). Na esquerda, é assim desde que Marx e Engels fundaram a I Internacional, no século XIX. Essa retórica em torno do Foro é feita sob medida para despertar o nacionalismo dos quartéis. É apenas uma justificativa para se pedir a tal intervenção militar, solução favorita dos que não acreditam na democracia e na força da própria sociedade para encontrar os seus caminhos.

Essa direita é muito útil ao PT. Quando todos estão prestes a abandonar o barco, fartos da corrupção, surge meia dúzia de malucos com pinta de fascistas e com saudades da ditadura. Exatamente o que o PT precisava para re-coesionar toda a sua base com o discurso: "pode haver corrupção, mas somos o partido de esquerda e democrático que resiste ao fascismo e blá, blá, blá... Voltam as imagens dos torturados, novas investigações da Comissão da Verdade e por ai vai.

Embora o PT não seja mais um partido de esquerda, você petista histórico sempre poderá matar a saudade do seu velho partidão. Afinal, temos eleições a cada dois anos. Tudo bem, você terá que amargar algum nível de ajuste fiscal em 2015. Você pode até ser gozado pelos seus amigos, mas lá para abril de 2016, pode contar: o PT esquerdista estará de volta, dividindo o país em nós e eles, destruindo amizades e plantando ódios de classe, regionais, raciais e religiosos. Fechadas as urnas municipais, o assunto será: para quanto aumentaremos o ônibus? E a vida segue em Pindorama!

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sobre meritocracia e desigualdade

Sou pela meritocracia, pois se os melhores forem promovidos, todos serão incentivados a melhorar e a sociedade sairá ganhando pois, para cada função, será escolhido o mais apto. Mas reconheço que nunca teremos oportunidades iguais, pois as famílias são diferentes. Nascer numa família na qual as pessoas estudaram, viajaram, falam e lêem diferentes idiomas é muito diferente de nascer numa família na qual os pais têm poucos estudos e pouco tempo para dedicar aos filhos. Claro que a escola pode e deve ser igual para os dois, mas isso não garante a igualdade absoluta de oportunidades. Isto simplesmente não existe, pois o capital cultural é transmitido sobretudo pela família. 
Aliás, boa parte da desigualdade vem da natureza. Por que algumas mulheres são mais bonitas do que outras? Por que alguns são mais altos e mais fortes que os outros? A ideologia da igualdade absoluta é simplesmente a liberação do direito à inveja. Há cada vez mais meninas bonitas sendo agredidas por meninas invejosas. Agressões duras, destinadas a eliminar a beleza e restaurar a "igualdade de oportunidades". Infelizmente, está se banalizando. Os gordos também reclamam que são discriminados e querem mudar ou anular o que consideram ser "o gosto imposto pela sociedade". Como se sexo tivesse mais relação com moda do que com instintos desenvolvidos ao longo de milhões de anos de evolução da espécie. 
Antigamente a religião ajudava a frear esse terrível sentimento que é a inveja e tentava promover a caridade como forma de compensação das desigualdades. Com o descrédito das religiões, a inveja virou virtude cívica e a caridade obrigação do estado. Só que quem ia a uma Santa Casa nos tempos idos era tratado por pessoas que desejavam tratar os outros e acreditavam que isso as aproximava de Deus. Agora são atendidas em hospitais públicos por funcionários públicos que podem estar em greve por aumento de salários. Não sei se a religião deveria ou não voltar, mas a caridade deveria. A condenação da inveja também.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Sakamoto defende a disciplina do mercado livre

Acabo de ler um texto fantástico do Sakamoto. Imperdível. Não é ironia. Sei que ele escreve com o fígado, mas nesse impulso nos apresentou coisas muito interessantes e importantes. Sugiro que leia o Sakamoto e depois volte ao parágrafo seguinte.

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/10/15/sao-paulo-merece-e-precisa-viver-o-horror-da-falta-de-agua/

Três coisas são dignas de atenção no artigo do Sakamoto. Primeiro, ele reconhece o fracasso do estado e da política em organizar nossas vidas. Realmente, acreditar que há políticos cuidando de tudo e que podemos dormir tranquilos é ser um tanto ingênuo. Sei que ele gostaria mesmo é dizer aos paulistas que falhamos em reconhecer os bons. Talvez. Se na eleição passada tivéssemos votado no Mercadante, poderíamos ter água em abundância para nadar de braçada ainda que não chova. Ou teríamos um escândalo na Sabesp. Quem pode saber? O fato é que costuma não dar certo em parte alguma. Se os bons existem, o povo falha em reconhecê-los.

A seguir, ele adiciona a ideia que deixar as coisas correrem o seu fluxo natural (o que um economista liberal chamaria de "deixar o mercado funcionar") é a solução. Não tenho como não concordar. Agindo livremente nos seus negócios privados, as pessoas cometem erros e alguns podem ser bem graves. Mas, como sofrem diretamente as consequências dos erros, podem aprender. O realismo do mercado livre, no qual as pessoas têm até mesmo o poder de desperdiçar recursos preciosos, pode impor situações muito duras. Sempre que consome algo, há uma conta a ser paga, às vezes na forma de escassez. Mas é reconhecendo a realidade, as limitações, a escassez e as consequências dos próprios erros que os homem aprendem e se civilizam. Não resolve nada desejar ser protegido por um estado-babá. Na hora H, ele falha.  Nem que seja porque nós falhamos em eleger os melhores. Há um tipo de pessoa que não quer aprender nada com isso, pois segue o clamor por mais estado, mais intervenção ou a troca dos gestores, embora haja pouco ou nenhuma evidência de que fariam um papel melhor.

Por último, Sakamoto ainda reconhece que o preço é um importante sinal social. Concordo de novo. Há muito se sabe que, quando um bem ou serviço fica mais escasso ou mais desejado pelas outras pessoas, haverá uma alta de preços, salvo se outras condições do mercado mudarem (como uma tecnologia que reduza os custos de produção, por exemplo). As alterações de preços são simples reflexos das mudanças nas condições de produção de um bem, do poder dos produtores sobre o mercado ou do grau de necessidade ou desejo existente pelo bem na sociedade.  Preços são sinais sociais, produzidos por uma interação complexa onde todos nós influímos, embora de forma desigual e, às vezes, profundamente desigual. Se um preço é alto devido ao monopólio o problema não está no sistema de preços, mas no monopólio. Não devo congelar o preço, mas sim promover a concorrência. Preços são sinais sociais que o estado e os políticos deveriam olhar com bastante respeito e prudência. Sempre é bom pensar dez vezes antes de intervir em algo tão complexo e delicado pois o conjunto das consequências nunca pode ser totalmente antecipado. Acontece o mesmo quando interferimos em sistemas naturais. Nem tudo pode ser previsto.

Afinal, qual a diferença entre o que o artigo diz e o que um economista ultra-liberal diria? A que existe entre o fígado e a teorização racional. Racionalmente, é melhor enfrentar uma crise ambiental e virar uma pessoa melhor depois disto do que ser guiado por governos autoritários que alegam saber o que é bom para nós. Melhor cometermos nossos próprio erros. Se cedermos a liberdade ao estado dominador em troca de uma vida mais confortável, vamos perder o conforto e acabar vivendo como escravos.

Não há economistas no mundo capazes de montar um sistema que funcione melhor que o mercado. Toda forma de planejamento centralizado tentada até hoje falhou. No fundo, Sakamoto acredita muito mais do que os economistas no estado dos nossa ciência, o que é natural. Sou profissional de economia há muitos anos. Sei muito bem o que o planejamento não pode entregar. Um dos problemas da democracia é que o leigo em economia, ou seja, a imensa maioria da humanidade, facilmente pode preferir os economistas e os políticos que afirmem ter soluções superiores às que a democracia e o livre mercado podem gerar. Eles garantem que, se tiverem um pouco mais de poder, podem nos entregar uma vida melhor. É só uma ilusão, mas, quando as pessoas pedem o impossível, só os mentirosos podem satisfazê-las.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

NON DUCOR, DUCO !

Só para lembrar:
-Em São Paulo fica o Largo de Pinheiros, local onde os estudantes da USP fizeram a primeira manifestação contra a ditadura da vaga que começou em 1977 e terminaria com a reconstrução da UNE e a queda da ditadura. Em São Paulo, fica a PUC, que foi invadida durante o regime militar.
- Em São Paulo fica São Bernardo, Santo André, São Caetano, onde os metalúrgicos iniciaram greves generalizadas em 1978 que culminariam na reorganização sindical, na construção da CUT e outras centrais sindicais.
- Em São Paulo fica Diadema, onde o PT conquistou sua primeira prefeitura, em 1982.
- Aliás, em São Paulo foi fundado o Partido dos Trabalhadores, no bairro do Higienópolis, na sede do Colégio Sion.
- Em São Paulo o PT obtinha, nos primeiros anos, seus melhores resultados eleitorais. Aqui fizeram carreira política Lula, Genoino e muitos outros imigrantes de todas as partes do país, assim como egressos da clandestinidade como José Dirceu. Aqui, eles encontraram o caminho para suas carreiras políticas de sucesso.
- Em São Paulo fica a maior parte da indústria nacional e, consequentemente, parte significativa da classe operária brasileira.
- Em São Paulo se realizaram os maiores comícios por eleições diretas.
- São Paulo é o berço da parada gay no Brasil e realiza a maior delas todos os anos. É um evento importante do calendário turístico.
Eu poderia multiplicar os exemplos, mas paro por aqui. A pujança de São Paulo sempre esteve a serviço do Brasil, abrindo caminho para fazer aqui as coisas que nem sempre eram possíveis em outros locais, devido ao controle estreito imposto por oligarquias poderosas.
Por isso, se hoje alguns sacripantas disseminam preconceitos contra os paulistas, isso fala mais sobre eles mesmos do que sobre os moradores deste estado. Aqueles que hoje cospem no prato que comeram mostram mais uma vez que merecem o ostracismo no qual estão sendo colocados.
NON DUCOR, DUCO !

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pregar contra os gays deve ser punido com cadeia?

Eu gostaria de responder esta pergunta como um  caso geral. Não quero saber se fulano ou sicrano disse exatamente isto  ou aquilo. Ainda mais se quem disse é irrelevante. Quero discutir o princípio, porque algo me diz que a polêmica voltará regularmente. Primeiro, vamos esclarecer que palavras são diferentes de atos. Se uma escola barra um aluno por ser gay ou se alguém agride outra pessoa por causa da sua sexualidade, então comete um crime de discriminação. Isto não está em discussão! Seria bom, inclusive, que as punições fossem exemplares. Outra coisa é o Padre, o Pastor ou qualquer sacerdote condenar o homossexualismo e dizer que Deus não o aprova. Se ele não diz a seus fiéis que batam em gays, que os barrem ou que lhes neguem direitos, mas apenas que não sejam eles próprios gays e tentem convencer os amigos e familiares a não o ser, então somente está no exercício da sua liberdade religiosa. 

A pretensão dos que  querem definir a simples condenação verbal da homossexualismo como um novo tipo de crime, semelhante ao cometido por alguém que profere uma injuria racial ou propaga uma causa racista é um ovo de serpente. Por isso resolvi gastar algum tempo com o tema. Raça e sexualidade não se equivalem como debate social. Para um socialista, assim como para um libertário ou um liberal mais aberto em questões morais, de fato podem ser equivalentes. Libertários e socialistas costumam se encontrar na defesa de mais direitos de liberdade de comportamento. 

O ponto é que,nem todos são socialistas ou libertários. O homossexualismo é visto de forma bem diferente por outros segmentos sociais relevantes, que são merecedores de outras liberdades, como a liberdade religiosa. No caso do racismo há um consenso entre laicos e religiosos sobre o assunto. Só uma minoria ainda sustenta o racismo como ideologia. Evoluímos muito nisto depois da Segunda Guerra. Não estou dizendo que não exista racismo e comportamento racista. Existe e muito. Basta ir à um estádio. Estou apenas dizendo que muito poucos chegariam ao ponto de dizer algo como: "sou racista" ou "defendo que o estado adote políticas racistas". Essa é uma discussão encerrada entre os "homens de bem", então é fácil fazer leis. Consequentemente, elas já existem. 

O caso do homossexualismo é outro. Os religiosos tendem a condenar a prática, embora a imensa maioria deles também condene a violência contra os gays. Admita: você não vê muito grupos de evangélicos se organizando para bater em homossexuais. Então não é esse o inimigo. Os perigosos são minorias radicais fascistas ou fenômenos religiosos nefastos, como o Estado Islâmico. Penso que há, no Brasil, um amplo consenso social favorável à leis contra a violência dirigida aos homossexuais. Então devemos produzi-las e aprimora-las e, sobretudo, aplica-las.

Contudo, este mesmo consenso não existe sobre, por exemplo, permitir ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Socialistas e liberais não deveriam impor seu ponto de vista às pessoas religiosas assim sem mais, na base autoritária e utilizando a cadeia como instrumento de persuasão de ideias. Assim, a liberdade religiosa é violada. Isso não costuma acabar bem. 

No debate sobre os direitos dos homossexuais eu tenho lado, como disse a candidata. Sou favorável ao direito do casamento civil para pessoas do mesmo sexo. Os que pensam como eu, temos que lograr um convencimento e uma aceitação mínima dos religiosos. Também não deveríamos esperar mesmo até eles aceitarem. Se não, até hoje não haveria a lei do divórcio. Mas não teria sido correto prender padres que atacassem o divórcio alegando que as divorciadas se tornam mulheres perdidas neste mundo e no outro e devem ser evitadas no contato social. 

Então, se é para discutir leis mais liberais, estou com a Luciana Genro, o PSOL e o PSTU.  Mas se o que eles querem mesmo é usar a causa dos homossexuais para colocar gente na cadeia por opinião (ainda que uma opinião tão nefasta como essa), então ela terão a minha firme oposição. Não é correto. Onde passa um boi, passa uma boiada. Assim começam as guerras sectárias. Assim começam a morrer as democracias. 

Não podemos criminalizar opiniões. Dizer besteiras também é um direito.

Quem pede cadeia para crimes de opinião deve pensar um pouco mais. Hoje você pede cadeia por causa de uma opinião notoriamente absurda e discriminatória. Mas convém não esquecer que onde passa um boi, passa uma boiada. Só para dar um exemplo histórico: TODOS os membros do Comitê Central do Partido Comunista da URSS foram executados (Trotsky inclusive), à exceção de Stalin. Todos acusados de propaganda e ideias contra-revolucionárias. Não se combate a pregação da ignorância e do obscurantismo com cadeias, mas com luz e esclarecimento. NOTE BEM: estou falando em crimes de OPINIÃO. Já a discriminação ou a violência não entra nesta categoria, pois não são opiniões, são ações. Atos podem ser criminosos e, portanto, passíveis de punição, mas antes de criminalizar opiniões é bom pensar muito bem. Quem vai decidir quais são as opiniões "boas" ou "permitidas"? Vai haver algo como um Ministério da Verdade?

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A hora difícil para Aécio. A hora difícil para todos nós.

A campanha do Aécio está num encruzilhada. Dependendo de como Aécio ataque Marina na reta final da campanha, pode acabar ajudando Dilma a vencer a eleição até mesmo no primeiro turno. Seria uma derrota terrível para as oposições e todos ficaríamos com caras de idiotas.
Fiz absoluta questão de não apoiar nenhum dos candidatos a presidente (pode ser conferido na minha timeline). Fiquei neutro não por deixar de ter as minhas preferências, mas por pensar que a questão principal é derrotar Dilma e o PT. Se eles ficarem mais quatro anos no poder, teremos certamente uma grave crise econômica e política pela frente. Muito em breve, eu imagino.
O PSDB tem duas maneiras de derrotar Dilma. A primeira é levar Aécio ao segundo turno e vencê-lo. As duas coisas parecem bem difíceis neste momento! Bem difíceis mesmo! A segunda é compor-se com Marina e colocar suas condições para apoiar e participar do seu governo. 
Obviamente, do ponto do vista de Aécio e do PSDB a primeira opção é a melhor. Não há dúvida sobre isso. O único problema é que se for usada qualquer arma para cumprir o plano A, os dois planos podem terminar inviabilizados. E toca construir um plano C para 2018!
Não é verdade que Marina e Dilma sejam variante do mesmo. Marina não tem compromisso com os mensaleiros nem com o PMDB. Não tem passado ligado à corrupção. Seus economistas são muito próximos ao PSDB. Marina tem defendido a independência do Banco Central e o ajuste fiscal. Ela não tem os arroubos autoritários e bolivarianos da velha esquerda stalinista. Não vai tentar "regular" a imprensa. E certamente não seguirá com essa política externa vergonhosa que temos. 
Marina pode não ser o ideal. Do meu ponto de vista, não é mesmo. Mas seria um imenso passo em frente e uma derrota monumental para o PT. Até analistas tido como radicais, como o Rodrigo Constantino, por exemplo, têm poupado Marina e até manifestado alguma simpatia, não pela candidatura, é claro, mas pelo fenômeno oposicionista que ela representa. 
Aécio, o PSDB e todos que o apoiam devem pensar muito bem no que farão nesta reta final. No início da campanha, quando Aécio estava na frente de Eduardo Campos, havia um pacto de não agressão entre ambos. Agora que Marina está na frente este pacto deveria ser honrado. Não por uma questão apenas moral, mas sobretudo política.
É claro que Aécio tem o direito de manter a sua candidatura até o final. Mas, se o fizer, deveria ver muito bem COMO o fará. Esta é uma boa hora para demonstrar que, mais do que um mero projeto de poder, ele e o PSDB têm um projeto político alternativo para o Brasil. Nós estamos precisando e muito.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O IPEA estuprou a estatística.

Como professor de econometria, eu não posso acreditar que, diante de um resultado tão surpreendente, os dados não foram revisados com muito cuidado. Se fosse o exame final de um aluno de estatística, ele deveria ser reprovado.

Fica difícil, depois de uma dessa, acreditar em qualquer coisa dessa pesquisa. Mas vamos lá. Aqui há dois problemas. O primeiro é a interpretação da pergunta. Segundo relato da folha a pergunta é sobre a mulher ser "atacada".  A palavra "atacada" não pode ser assim, ligeiramente, entendida como "estuprada". Não são exatamente sinônimos. Se a intenção era quantificar o apoio ao estupro, por que a pergunta não mencionou explicitamente "deve ser estuprada"?  Qualquer técnico sabe disso.

A segunda questão é que não são bem 26% os apoiadores do "ataque". Segundo o IPEA, 12,8% concordam parcialmente com a frase e 13,2% concordam totalmente, o que soma 26%. Bem, quem concorda parcialmente também discorda parcialmente.

Claro que todo e qualquer estupro, um que seja, é inaceitável. Mas o que o IPEA fez, na semana em que todos soubemos do bilhãozinho da Petrobrás, também é inaceitável. Essa pesquisa é uma vergonha e já houve um pedido de demissão. É pouco.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1435877-pesquisa-que-indica-apoio-a-ataques-a-mulheres-esta-errada-diz-ipea-so-26-concordam.shtml

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A nova "guerra nacional popular" de Maduro

Não vou entrar no mérito pois não tenho vocação para investigações policiais. Mas, do ponto de vista da política internacional, este é um velho e surrado golpe de todos os governos que se sentem ameaçados: criar um conflito externo para mobilizar o patriotismo e, nesse caso específico, também o bolivarianismo e o esquerdismo radical.

Pode dar errado. Em 1982, os militares argentinos jogaram essa carta e terminaram numa guerra com o Reino Unido. Acabou, é claro, numa derrota militar e numa queda desordenada da ditadura.

Maduro parece bem mais esperto. Sua guerra com os Estados Unidos será apenas retórica. A Venezuela continuará vendendo petróleo aos americanos, que seguirão comprando. Os Estados Unidos estão muito mais relutantes em envolver-se em guerra por energia, já estão retirando-se de outros atoleiros.

O grande problema de se "jogar para a torcida" com a política externa, é que, se alguma coisa sair do planejado, nosso aprendiz de feiticeiro deixa de ser condutor e torna-se passageiro de um carro desgovernado. Como já se disse, a vida é aleatória.

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,maduro-diz-que-vai-expulsar-tres-funcionarios-consulares-dos-eua,1131296,0.htm

O "analista" Caetano Veloso

Caetano Veloso escreveu um artigo no Globo no qual menciona dois grandes colegas economistas: Eduardo Gianetti e André Lara Rezende. Proponho uma experiência mental: imagine que o Gianetti e o Lara Resende também sejam cantores e compositores, nas horas vagas, e que a dupla vai se apresentar num teatro ao lado do qual o Caetano faz o seu show. Se o preço do ingresso fosse o mesmo, digamos R$ 200,00, qual dos shows você assistiria? Eu iria ao do Caetano, é óbvio. E você?

Agora, se você está buscando ouvir opiniões sobre política ou economia, eu sugiro que procure um especialista. O Caetano, vestiu-se de black bloc. Só isso dá uma amostra clara da sua desinformação e ingenuidade. Sobre economia, nunca vi ele falar nada coerente. Deixo claro que não cobro isso dele, como não cobro do Gianetti que cante afinado. Apresento, abaixo, o link do artigo, para que todos possam conferir a total ausência de ideias e a mais absoluta fulanização do debate.

Um belo exemplo do que Mario Vargas Llosa nos mostrou em "A civilização do espetáculo", cuja leitura recomendo vivamente.

http://oglobo.globo.com/cultura/freixo-outra-vez-11616610

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sobre a "filosofia" black bloc pela qual ataque às coisas não constitui violência

O estranho conceito dos black blocs sobre a violência nos permite discutir um princípio importante: o ataque aos bens de uma pessoa é um ataque à própria pessoa. Tanto um grande banco quanto um trabalhador com seu fusquinha têm o mesmo direito à propriedade. A diferença é o como lidam. Tento me colocar no lugar. Se eu fosse dono de um grande banco, teria também uma seguradora. Eu simplesmente pediria aos meus funcionários técnicos uma reavaliação do risco de sinistro das agências e sugestões sobre como lidar com ele. Ficaria chateado, claro, talvez tivesse que economizar em algum dos requintes da vida, mas seguiria em frente. Porém, se eu fosse o dono de um fusquinha queimado, pelo qual tivesse feito um grande sacrifício, eu provavelmente me sentiria magoado, revoltado, indignado e injustiçado. Esses são sentimentos humanos. Para um black bloc, a questão importante é que o fusquinha realmente não sente nada!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sobre black blocs, justiceiros e a República de Weimar

Eu tenho alunos black blocs. Eles poderiam ser meus filhos. Eu sou pai, gosto de dar aulas, aprecio a juventude e faço amizades com meus alunos. O que eu venho dizendo aos meus alunos black blocs? Em primeiro lugar, que parem com isso. Constitui uma estupidez construir uma milícia de esquerda sem, em algum momento, abrir o caminho para o surgimento de uma milícia fascista. Eu gostaria de poder interromper livremente os assuntos do programa escolar para lhes prevenir o quão terríveis são as milícias de direita e as desgraças que elas já causaram. Eu apelaria para que não despertassem monstros adormecidos. Tenho sugerido que utilizem os métodos democráticos, que escrevam textos, façam reuniões, comícios e passeatas. Que fundem partidos políticos como a minha geração fez. Tenho contado a eles a experiência da guerrilha urbana e mostrado quanto sacrifício foi feito para marcar um gol contra. Insisto não se devem esquecer dos livros, pois todo idealismo é passível de degenerar em barbárie quando não é esclarecido.

Eu não tenho amigos justiceiros. Acho que não tenho, pois é óbvio que um justiceiro nunca se apresentaria como tal. Será que eu poderia ter amigos justiceiros? Talvez, afinal eu tenho amigos liberais, conservadores, trotskistas, socialdemocratas, libertários, católicos ultramontanos e progressistas, judeus liberais e religiosos, evangélicos, gays, maconheiros etc. Talvez, me esforçando um pouco, eu conseguisse compreender a mentalidade de um policial honesto, vendo-se cercado por todos os lados e ainda combatido duramente por parte da sociedade pela qual arrisca a sua vida. Talvez assistisse Tropa de Elite para tentar entende-lo.

Se eu tivesse esse amigo justiceiro eu lhe diria o que foi o nazismo e o fascismo e os horrores que geraram. Eu tentaria lhe mostrar no que deram todas as tentativas de impor a ordem social por meios autoritários. Eu lhe diria para confiar apenas na democracia. Que não dispomos de nada melhor para manter a ordem social com o mínimo de custo em termos de vidas e de liberdades individuais. Diria que o crime pode e deve ser combatido com sucesso por uma polícia profissional.

Tanto para o meu aluno black bloc quanto para o meu amigo imaginário justiceiro eu gostaria de contar a história da República de Weimar. Explicaria que na Alemanha, depois da derrota na primeira guerra, a monarquia acabou e nasceu a tal República de Weimar. Ela despertou grandes esperanças, mas foi logo sacudida pela crise econômica e pela hiperinflação. Terminou sendo a República que ninguém defendeu e deu lugar ao mais criminoso regime político que já existiu: o nazismo.

Duas forças foram as responsáveis diretas pela desestabilização política do país: os comunistas e os nazistas. Os comunistas partiram para uma luta direta pela revolução, recusaram-se a colaborar com os socialdemocratas, com os quais poderiam ter formado um governo conjunto! Eles preferiram fazer uma intensa campanha classificando os socialdemocratas como “socialfascistas” e realizaram ações para desestabilizar o seu governo. Qualquer semelhança com PSOL, PSTU, PCO e black blocs é mero atraso histórico.  Do outro lado, os nazistas foram ganhando apoio, entre outras coisas, porque eram os únicos que conseguiam enfrentar os comunistas na luta de rua. Os argumentos, os livros, os debates, os comícios passaram a valer cada vez menos. Importantes eram os jovens fortes, cheios de músculos e testosterona, dispostos a dar a vida por uma utopia social, que, invariavelmente, terminou nas imensas catástrofes humanitárias do fascismo e do comunismo.

Aqui temos alguns complicadores com relação a Weimar. O governo socialdemocrata não é lá muito anjinho. Parte dele quer controlar a imprensa, parte quer revanche contra os militares, parte quer atacar o direito de propriedade e há uma tendência generalizada a quebrar e ignorar regras para uma competição eleitoral justa. Para complicar, há uma tolerância infinita à corrupção e um profundo ressentimento social quanto a isso. Não bastasse, podemos ter pela frente uma crise econômica.


A violência política não se generalizou no Brasil. Ainda. Vamos todos recuar um passo. Todos temos tempo para recuar. Não há outra atitude humana a tomar. Justiceiros agem fora da legalidade. Podemos compreender, mas não muda o fato de que é um crime com punições duras  já previstas na lei. As penas existem para ser aplicadas. Mas a mesma mão dura que cair sobre os justiceiros deve cair sobre os black blocs. Eles que recuem a tempo, que saiam de costas fingindo que estão entrando, repensem, mudem seus métodos e reapareçam sem máscaras e com textos, panfletos, jornais, discursos e convocando suas reuniões. A polícia deve agir com transparência e absoluto respeito à lei e normas profissionais democráticas. Se Weimar cair, seja maldito todo aquele que não a defendeu.