terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O Brasil de volta ao protecionismo

As consequências da política econômica da era PT começam a ficar claras. Hoje o jornal noticia que o Brasil acaba de pedir à China que reduza voluntariamente as suas exportações. Com medidas como essa, estamos voltando ao protecionismo, assustados com a re-especialização agro-mineral das exportações brasileiras. O recente desenvolvimento desse perfil exportador é um fato explicado em qualquer manual introdutório de teoria econômica. As economias exportam os bens nos quais possuem custos (relativos) menores, abundância (relativa) de insumos ou vantagens de escala, fora o caso de algum produto com diferenciação notória, como o vinho francês, por exemplo. Os bens e serviços que tem as características inversas, serão importados, sempre que isso seja possível. A teoria econômica prevê (e acerta)  que o Brasil teria sua especialização em minérios, produtos agrícolas, indústrias muito ligadas à agricultura, como bebidas e alimentos e alguns setores para os quais haja vantagens de escala (como o automobilístico ou aeroespacial). Para a China, abundante em trabalho de baixa qualificação e escassa (relativamente) em recursos naturais, a indústria é a vocação natural.

Mas, reagir a este fato com uma recaída na política protecionista é um grave erro, com consequências nefastas. Os impactos negativos serão muitos: 1) os produtos ficarão mais caros, quer venham a ser oferecidos por fabricantes nacionais ou importados; 2) pagando mais caro, os consumidores desses produtos terão menos renda para outros produtos ou serviços; 3) empresas terão seus custos de produção aumentados quando comprarem importados; 4) criação de um mercado protegido para produtos de menor qualidade incapazes de competir na economia mundial; 5) desvio da energia de muitas empresas para a atividade lobística. Para que se entenda como este último item pode ser nefasto, vamos lembrar que, se o governo arbitra quais setores serão protegidos, as empresas ficarão motivadas s gastar com advogados e políticos para obter proteção, desviando recursos que em outro ambiente seriam usados para inovar, reduzir custos ou melhorar qualidade. As pessoas mais velhas ainda lembram-se do nosso mercado protegido no qual a qualidade dos produtos era baixa e os preços, bem os preços subiam todos os dias...

A única política eficiente para defender um setor industrial passa por contar com trabalhadores que trabalhem a um custo viável. O que quero dizer pode ser mais bem explicado por um exemplo: se no país A um trabalhador produz 10 unidades por hora enquanto do país B outro trabalhador produz só 1, uma multinacional será indiferente entre pagar US$ 10 ao trabalhador de A ou US$ 1 ao trabalhador de B, porque nos dois casos o custo de produzir 1 unidade do bem terá sido um US$1. Mas o trabalhador de A perde seu emprego se cobrar US$ 10 e produzir apenas 9, tanto quando o trabalhador de B perde o seu se continuar a produzir 1, mas quiser receber US$ 1,50.

A conclusão é que para melhorar de renda e ainda manter o emprego industrial é preciso que o aumento de renda seja acompanhado de aumento da produtividade. Esse caminho para um povo enriquecer é duro, pois tudo nele é trabalho, estudo, disciplina, persistência e comedimento. Os alemães têm se dado bem neste jogo. Já as políticas de crescimento da renda baseadas em crédito e expansão de gasto público sem concomitante crescimento da produtividade são eliminadoras naturais de emprego industrial. O exemplo americano está diante de todos. As coisas são ainda piores quando os impostos são altos e a infra-estrutura ruim.

As políticas de crescimento da renda que ignoram esta regra de prudência e buscam a mágica da expansão do crédito e dos gastos públicos sempre terminam em colapso. Um aumento muito súbito da renda e do consumo induz a uma demanda por novos bens, serviços e por mais capitais para investimento. Não é raro que esta nova demanda só pode ser suprida por grandes importações de bens, serviços ou capitais, ameaçando a estabilidade das contas internacionais. Até o momento em que, por qualquer razão, o fluxo se inverte. Acabou de acontecer na Grécia.

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