segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O que as medalhas do Pan têm em comum com a guerra dos Balcãs?

Estamos sendo assolados por denúncias bastante fundamentadas de que o PC do B teria montado um “esporteduto” para desviar dinheiro público aos montes através de ONG's que, teoricamente, deveriam estar investindo esses recursos no esporte.

A relação entre comunismo, nacionalismo doentio, esporte, captura do Estado e crime é antiga e já foi bastante relatada. Estou lendo, com certo atraso, um livro muito importante sobre o assunto e que recomendo a todos: McMáfia: o crime sem fronteiras de Misda Glenny (Companhia das Letras, 2008). Vejam o que há na página 46 sobre o período das recentes guerras na ex-Iugoslávia:

“Ainda mais chocante, porém, era o fato de que os mesmos homens que alimentavam a guerra entre seus povos estavam, em particular, colaborando entre si, como bons amigos e parceiros de negócios. Os homens do dinheiro e os gângsters croatas, bósnios, albaneses, macedônios e sérvios eram como unha e carne. Compravam, vendiam e trocavam todo tipo de mercadoria, sabendo que os laços de confiança entre eles eram muito mais fortes do que os vínculos transitórios do nacionalismo histérico. Isso eles fomentavam entre a gente comum, essencialmente para mascarar sua própria venalidade. Como descreveu um analista, as novas repúblicas eram governadas ‘por um cartel que emergiu do Partido Comunista no poder, da polícia, dos militares, da máfia, e que tinha o presidente da República no centro da teia de aranha [...] Para o cartel, o nacionalismo tribal era indispensável como instrumento de pacificação de seus subordinados e para disfarçar a contínua apropriação do aparato estatal”.

O resto do capítulo mostra como a guerra gerava a oportunidade de vender armas, petróleo e outros produtos sob embargo a preços elevadíssimos.

Nós fomos atingidos por uma versão branda desse vírus. Nós não estamos e nem vamos entrar em nenhuma guerra real. Mas usando uma tecnologia que deve ter aprendido com os Partidos Comunistas do Leste Europeu e da Ásia, o nosso PC do B está conduzindo vitoriosamente uma guerra simbólica. Nosso resultado de medalhas no Pan-Americano é impressionante. Motivo de alegria e orgulho para as pessoas que gostam de esportes, especialmente os mais velhos que se lembram de fiascos terríveis em competições anteriores, mesmo Pan-americanos. Mas qual esta sendo, e mais importante, qual ainda será o preço disso tudo (mais a Copa e a Olimpíada) em termos de desvio de dinheiro público e de ocupação não-democrática da máquina do Estado?

Felizes os países onde o nacionalismo já não é bem visto. Na Alemanha, onde a exaltação da pátria foi usada até o limite último pelos nazistas, se um político se apresentar como nacionalista, perderá votos importantes.

Seria também muito bom se os impostos que os brasileiro pagam em proporções escandinavas pudessem realmente ser utilizados para o bem público. Teríamos as mesma medalhas, ou na pior das hipóteses algumas a menos, porém melhores escolas e hospitais. Não sei se os suecos ou dinamarqueses realmente se preocupam com o escasso número de medalhas olímpicas e de títulos internacionais de futebol. Mas sei que
Ceaucesco, Enver Roxha, e Fidel Castro, entre outros, levaram isso muito a sério.

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